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BATMAN versus SUPERMAN, CAPITÃO AMÉRICA versus HOMEM DE FERRO E A FALÊNCIA CRIATIVA DE HOLLYWOOD

BATMAN versus SUPERMAN, CAPITÃO AMÉRICA versus HOMEM DE FERRO E A FALÊNCIA CRIATIVA DE HOLLYWOOD

De algum tempo para cá, Hollywood (lato sensu) expôs de vez sua falência criativa. Tudo parece girar em torno das histórias em quadrinhos da Marvel, com Stan Lee fazendo pontas ridículas na versão cinematográfica de suas criações.

É bem verdade que as produções hollywoodianas, antes do domínio hegemônico de Marvel e DC Entertainment, já não se destacavam pela originalidade, a não ser pela beleza cênica na transposição de um ou outro clássico literário, mas não se podia deixar de reconhecer que pelo menos a produção material era rica, bem casada com engenho eletrônico e com efeitos especiais.

Agora, sem verve nem originalidade, o famoso centro de produção cinematográfica resolveu apelar para o inusitado: pôs seus “super-heróis” para se digladiarem, provocando o espanto dos fãs, que, nessa nova configuração da ficção quadrinística, estão às voltas com o conflito semântico de suas fantasias nascidas na infância e adolescência.

Antes, a relação desses fãs, que se contam aos milhões, com seus super-heróis era fundada no combate ao “mal”. A cidade onde atuavam até se mostrava em alguns momentos com poucos bandidos em comparação aos tantos heróis disponíveis, que quase nunca eram vistos juntos nem curiosamente se esbarravam nos céus da metrópole.

Isso embalava o sonho comum de ser superman, como analisou o genial Umberto Eco, o semiólogo além de qualquer moldura, numa de suas mais aplaudidas obras, “Apocalípticos e integrados”: o medíocre Clark Kent seduzia quando se tornava o homem de aço, que não deixava nada para depois, mostrando-se altamente eficaz em suas lutas, estimulando a fantasia do homem comum e arrancando os suspiros românticos de Lois Lane. 

Umberto Eco 

Hollywood, não satisfeita, caiu na armadilha de suas contradições ideológicas: põe agora seus heróis para perderem a serenidade e se esmurrarem à exaustão, estimulando a ideia de que não há mais objetivo a salvo de crítica e que, por isso mesmo, amigos fraternos e fieis aliados devam, sim, se permitir sair da estribeira, resolvendo no mais grotesco pugilato suas diferenças e vaidades.  Isso talvez deite raízes na constatação de que há mais caciques que índios e que, sem a ameaça vermelha da União Soviética, resta pôr os heróis ora na depressão, ora na ansiedade e sempre na baixa tolerância recíproca.

Nos trópicos, onde sempre se receberam essas informações visuais e ideológicas com muita passividade, um subproduto nada interessante foi sendo observado: o fascínio com o tipo mais cultuado pela mídia ianque: o cara loiro, atlético e de olhos azuis. Com espelhos que parecem refletir obsessivos desejos estéticos de imitação, por aqui muitas vezes se tentou uma adaptação burlesca: cabelos foram alisados, sol por alguns evitado, sobrenome não-português ostentado (ainda que tenha pertencido ao primo do padrasto do avô) e até lentes coloridas tentadas. Quando o resultado disso arrancava um “você tá parecendo um europeu”, era a glória.

Bovarismo é isso aí. O que é bovarismo? Uma deformação na autopercepção da imagem de uma pessoa, que se considera outra que não é. Por si só, essa alteração do sentido da realidade, fomentada pelo culto do super-herói loiro, já renderia muita preocupação com o estado emocional de quem o protagoniza nessa terra de rostos morenos, caboclos, negros e pardos.

Para complicar ainda mais a complexidade desse quadro, surge então Hollywood com o mote dos golpes violentos entre pares que, na origem da ideologização ianque, eram unidos pelo mesmo ideal de combater qualquer ameaça ao "american way of life" branco.

Se se adicionar a isso tudo o culto da pancadaria que os UFC’s da vida promovem, pondo em euforia tupiniquins por verem nativos brilhar nos EUA e darem porrada em gringos (se bem que agora, nem tanto), tem-se um resultado assustador: estamos sendo estimulados a ser uma grande torcida de Palmeiras e Corinthians...


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